A mudança vem do povo

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Publicado originalmente na Revista Novolhar – Editora Sinodal

Por Graziela Tillmann – Estagiária de Jornalismo do CDH

Para tratar de migrações, a Educação brasileira está ultrapassada

O censo de 2010 mostra que 35,4% dos brasileiros são migrantes. O que motiva essas pessoas a mudarem de cidade é a busca por oportunidades de emprego e estudo. Mas às vezes, a população da nova cidade não está preparada para lidar com o diferente. É responsabilidade do Estado e do Município acolher estas pessoas e a recepção das mesmas pela sociedade se faz pela Educação, mas como a Educação trata o assunto?

“A Educação torna-se um dos instrumentos importantes, mas não o único. Ela deve vir acompanhada de ações coletivizadas”. O Sociólogo e Professor Dauto Silveira, cita a frase relevando o poder da Educação nas escolas para um desenvolvimento crítico do pensamento. O tratamento do assunto da migração e da imigração pode ir além das histórias da escravidão antes de 1888 e mais do que a chegada de Pedro Álvares Cabral na colônia. Porém, o que é ensinado só vai ao limite do que o sistema dominante quer.

No currículo escolar as disciplinas de Sociologia e História estudam o patrimônio multicultural em grupos separados, mas não integrados, “eu sentia isso em meus alunos do ensino médio, eles sabiam identificar os grupos do Brasil, mas não sabiam problematizar”, diz Roberta Nabuco de Oliveira, Professora e doutoranda em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Aprende-se como é a vida do índio, os costumes vindos de grupos africanos e espalhados pelos escravos, a cultura alemã bastante presente no sul do Brasil, mas não como eles podem ser inseridos em uma realidade diferente de seus padrões.

A xenofobia causada pela desinformação do que é a convivência com o outro está presente: “eu só consigo perceber um pouco de problematização no assunto da geografia humana”, relata a Professora Roberta, que já deu aula nas redes públicas e particulares de ensino. Em casa, a criança ouve dos pais que, quem vem de fora quer roubar o emprego dos nativos, e então, chegam à escola e veem o migrante como uma “ameaça”, que ele não deveria estar ali. O tema é problematizado apenas nas cartilhas de programas contra bullying, onde a inclusão do indivíduo é integrada.

Tanto a migração quanto a imigração são casos imprevistos. Atualmente não temos uma migração em massa no Brasil, e é difícil prever quando vai acontecer uma. Por isso, o instrumento que possibilita o estímulo de consciência para transformações sociais, segundo o Professor Dauto é: “ tornar a Educação um instrumento poderoso de transformação social (…) como forma de fortalecer as lutas emancipatórias”.

A professora de Sociologia da Instituição Educacional Luterana (Bom Jesus/Ielusc), Valdete Daufemback, releva que para este desafio de Educação transformadora de realidades fica por conta do educador: “quem está formando professor, não está formando professor para os direitos humanos”, reforça Valdete, e por isso, o assunto na sala de aula é interpretado pela concepção política de quem ensina. A professora ainda cita que os cursos de licenciatura são ultrapassados, o que também justifica a falta da “humanização” dos assuntos. O profissional acaba aceitando o sistema que já está acostumado, pois ele tem pouca autonomia dentro da instituição. “Os professores não são capazes de desafiar”, enfatiza Valdete, trazendo à tona a repressão que sofrem por tentarem ir contra as concepções da escola.

Tudo o que é de novo na Educação é um pedido vindo do povo, onde o Estado aceita. Mas, para tal mudança é importante ressaltar atividades de movimentos sociais, “nada no Brasil foi conquistado sem luta, sempre foi uma coisa muito complicada”, completa Daufemback. Greves de professores municipais, estaduais e federais são exemplos do motivo para o poder enxergar que há necessidade de mudança.

A ajuda dos migrantes nessa mudança de sistema fica nula, pois quem migra, está em busca de algo melhor, e encontra. Quem vem do campo e chega à cidade, vê escola perto de casa e uma oportunidade de emprego, se acomoda, pois de onde veio, a situação era pior. A conquista pelo novo trabalho sustenta e distrai o que na realidade, ainda é pouco. E é possível buscar muito mais. A mudança vem do povo, mas para isso se necessita de Educação melhor, e para este fim, precisa do povo unido e “educado”.

Edição: Lizandra Carpes – Jornalista MTE – 04979/SC

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